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Agosto Dourado: nem todas as mães podem amamentar e tudo bem

Durante o Agosto Dourado, vemos um forte incentivo à amamentação como parte fundamental da saúde e do vínculo entre mãe e bebê. O Brasil é referência mundial quando se fala em aleitamento materno, com políticas públicas bem estabelecidas, campanhas educativas e os bancos de leite humano. Mas, em meio a essa mobilização, é essencial reconhecer que nem todas as mães têm essa possibilidade e isso não diminui o amor, o cuidado ou a potência da maternidade.

Para algumas mulheres, como aquelas que vivem com HIV, a amamentação não é recomendada, mesmo quando o tratamento é seguido com rigor e a carga viral está indetectável. A orientação dos profissionais de saúde segue um princípio claro: evitar qualquer risco de transmissão do HIV ao bebê por meio do leite materno.

Uma escolha feita por proteção

No Projeto Criança Aids (PCA), essa realidade é vivida de perto. A instituição acompanha mulheres que passam por toda a jornada da gestação e do nascimento com atenção e responsabilidade. Elas realizam exames, fazem acompanhamento médico, seguem o tratamento e, muitas vezes, precisam abrir mão do aleitamento para proteger seus filhos.

Segundo Adriana Galvão Ferrazini, presidente do PCA, “essas mulheres escolhem a segurança. Elas confiam nos médicos, seguem os protocolos e tomam decisões que garantem a saúde de seus bebês. Isso também é uma forma de amar”.

Proteger desde o começo
A recomendação de não amamentar é apenas uma das ações de um protocolo maior de prevenção da transmissão vertical do HIV. Essa estratégia também inclui o uso de antirretrovirais durante a gestação, atenção à escolha da via de parto e exames constantes de carga viral. Quando todos esses cuidados são respeitados, o risco de transmissão do HIV da mãe para o bebê pode ser reduzido a níveis quase nulos.

Mesmo assim, mães que fazem tudo certo podem se sentir julgadas por não amamentar. São olhares, perguntas e comparações que silenciam uma vivência legítima. Por isso, é tão importante reconhecer que a maternidade não se resume à amamentação. Cuidar é estar presente, fazer escolhas conscientes e garantir o bem-estar do filho, mesmo quando isso significa seguir um caminho diferente do esperado.

O risco da desinformação e o papel da prevenção

Muitas pessoas desconhecem que o HIV pode ser transmitido pelo leite materno mesmo após o parto, especialmente quando a mãe adquire o vírus sem saber que está infectada. Em casos como esse, a possibilidade de o bebê ser infectado pode chegar a 40%.

Por isso, é fundamental que gestantes e puérperas tenham acesso a testagens regulares, orientações claras e ferramentas de prevenção como a PrEP (profilaxia pré-exposição) e a PEP (pós-exposição), especialmente em contextos de vulnerabilidade ou exposição.

Nem toda escolha é visível, mas toda escolha de cuidado importa

Mães que não amamentam por orientação médica estão, na verdade, tomando uma decisão baseada em evidência e compromisso com a vida de seus filhos. Essas histórias precisam ser ditas, respeitadas e valorizadas.

Neste Agosto Dourado, o PCA reforça que toda maternidade é válida, inclusive a que não se expressa pelo aleitamento, mas pela presença constante, pelo cuidado diário e por decisões feitas com coragem.