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O acompanhamento pré-natal e o acesso aos medicamentos mudaram a vida de grávidas com HIV e, consequentemente, a saúde dos bebês gerados por essas mulheres. No mundo, os novos casos de infecções pelo vírus entre crianças caíram quase pela metade desde 2010, segundo dados do Unaids. O hospital Universitário Gaffrée e Guinle, que pertencente a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, sentiu o reflexo positivo dos dados. Foram 350 partos de mulheres vivendo com HIV nos últimos nove anos e nenhum caso de transmissão vertical. O diretor do hospital, Fernando Ferry, diz que isso se deve a combinação de três fatores:
“Tratar a mãe com as drogas antirretrovirais, segundo, não amamentar, terceiro, fazer cesariana. Então estas foram as três medidas principais que revolucionaram o tratamento. As mães começaram a tomar esses remédios, a carga viral fica indetectável e ela não transmite mais o vírus pros bebês.”
Camila Oliveira, de 24 anos, nasceu com o vírus, mas só soube da condição aos 12 anos, quando já frequentava um grupo de apoio a pessoas com HIV. Ela foi levada pela mãe adotiva, que naquele momento decidiu revelar o passado da menina:
“Ai eu falei assim: mãe, porque toda quinta-feira a gente tem que ir para o grupo (que tinha um grupo de psicólogo no Gaffrée e Guinle) e agora eu estou tomando remédio? Aí ela me disse que eu era uma filha adotada, que minha mãe tinha me passado (HIV). Meu chão na hora caiu”
A mãe biológica de Camila era moradora de rua e morreu em decorrência da aids. Passada a adolescência, Camila começou a cogitar a hipótese de ter filhos. Ela conversou com o companheiro, procurou tratamento médico e hoje tem dois filhos, um de três anos, outro de seis. Ambos não vivem com HIV:
“Eles não tiveram porque eu fiz tratamento. Quando você engravida, uma pessoa que é soropositiva, você toma remédio naquele período de gestação. Meus filhos são perfeitos e meu ex-marido não tem (HIV).
Quando os medicamentos são utilizados no período certo e a gestante faz o pré-natal, os riscos de transmissão do HIV para o bebê são mínimos. Os especialistas destacam que as dificuldades são em casos de mães usuárias de drogas e em situação de vulnerabilidade social. E foi pensando em famílias carentes, com crianças vivendo com HIV, que o Projeto Criança Aids foi criado em 1991, em São Paulo. A ONG acompanha cerca de 30 crianças e adolescentes, entre 2 e 17 anos, além dos irmãos deles. O momento mais dramático, segundo a presidente da ONG, Regina Lucente, é quando a mãe tem que revelar pra criança que ela vive com o vírus:
“Um dos assuntos mais discutidos é a revelação diagnostica. Porque a criança descobre, a criança fica revoltada com a mãe e às vezes se nega a tomar o medicamento. É um trabalho muito grande que a assistente social tem.”
Em 2006, 654 crianças com cinco anos ou menos foram diagnosticadas com aids no Brasil. Passados dez anos, esse número caiu quase pela metade.
Fonte: Rádio CBN