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Nesta terça-feira, 20 de agosto, o infectologista e ex-diretor do Departamento de DSTs, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, ministrou a conferência “A resposta à pandemia da aids, direitos humanos e o acesso universal à prevenção, diagnóstico e tratamento: um modelo para saúde pública” durante o XI Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e V Congresso Brasileiro de Aids, que ocorrem em Salvador. Dirceu frisou a necessidade de um Estado laico para uma resposta eficaz contra a aids.
Segundo o infectologista, entre os maiores desafios atuais estão a extensão de todos os direitos para homens que fazem sexo com homens, travestis e profissionais do sexo, populações com taxas mais elevadas de HIV do que a população geral brasileira. Além disso, ele pensa que a escola é o lugar ideal para a prevenção das DSTs e aids, mas que sua execução depende de um Estado laico. “E vocês sabem, todos vimos que tivemos alguns episódios recentes de vetos em materiais educativos”, disse.
Para Dirceu Greco, é fundamental pensar na emancipação de populações mais carentes para pensar em uma resposta de sucesso, tendo em mente que por conta da inequidade social, as pessoas com menor escolaridade e renda estão mais expostas à aids, o que não deve ser esquecido pelos profissionais de saúde.
“Não sendo mais do governo, eu agora posso falar coisas que não podia antes”, brincou ele, dizendo que a resposta brasileira à aids é boa, mas ainda com muitos caminhos para avançar.
Uma ação vista com entusiasmo pelo ex-diretor é o lançamento do antirretroviral 3 em 1, já que ele reduz o custo e facilita a adesão dos pacientes.Segundo ele, era um plano desde a sua gestão, e ele está ansioso por seu lançamento. Dirceu frisou também que os gastos com a prevenção e o tratamento da aids são vantajosos para o governo, que gasta menos em internações e outras áreas. “E dinheiro de aids não é custo, é investimento”, disse.
Mídia
A mídia só lembra de aids no 1° de dezembro e no carnaval, além de ter parado de falar que a aids ainda mata, causando uma certa complacência na população e fazendo crer que o problema está resolvido. Esta é a avaliação de Dirceu Greco e uma das principais críticas feitas por ele sobre a resposta brasileira. “A aids e a resposta a ela não chamam atenção da mídia”, disse.
Desafios
Na lista dos principais desafios futuros para a erradicação ou controle da epidemia, está a realização de ações para as populações mais vulneráveis. “Temos que fazer, sim, com toda a população, mas temos que focar em algumas. O problema é que esse foco traz questões de direitos humanos, pois focar demais faz com que se pense que só aquele grupo tem risco, pode trazer de volta essa ideia e o estigma”, pensa.
Melhorar a qualidade de vida dos pacientes também foi uma meta destacada por Dirceu, que reconheceu a dificuldade de realização desse objetivo, pois os profissionais dos serviços de saúde estão sobrecarregados.
“Quando nós começamos o acesso universal aos medicamentos nós éramos um país com poucos recursos e fizemos mesmo assim. Foi uma decisão política”, disse.
Nana Soares, de Salvador
* A Agência de Notícias da Aids cobre os Congressos diretamente de Salvador com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e o laboratório MSD.
Fonte: Agência Aids