Blog
Muito menos comentada que doenças infecciosas como a aids e a malária, a hepatite age silenciosamente e atinge um terço da população mundial, embora a maioria dos portadores não saiba que tem a doença. São 240 milhões de pessoas cronicamente infectadas e estima-se que um milhão de pessoas morra no mundo por causa de um dos cinco tipos de vírus que atacam o fígado.
Os dados são tão impressionantes que a Organização Mundial de Saúde instituiu este domingo, 28 de julho, como Dia Mundial de luta contra as Hepatites Virais. Ao todo são cinco tipos: a hepatite B é a que mais mata, apesar de haver vacinas disponíveis: mais de 600 mil pessoas no mundo. E a hepatite C , que não tem vacina, é considerada a maior epidemia da humanidade hoje – superior à aids em cinco vezes – afetando 150 milhões globalmente.
Itamar Montalvão pode se considerar um sobrevivente. Ele tem hepatite C provavelmente há 30 anos, mas a doença nunca se manifestou. Ele passou por uma transfusão de sangue aos três anos de idade por causa de um tumor no rim, que acabou sendo retirado. Naquela época, em 1976, a doença transmitida pelo sangue ainda era desconhecida da comunidade científica.
Três décadas depois, quando o outro rim começou a parar de funcionar, ele fez exames para entrar na fila do transplante e começou a fazer hemodiálise. Acabou descobrindo que também tinha o vírus da doença. “A hepatite é silenciosa”, diz o advogado de 39 anos. “Por sorte o meu sistema imunológico ainda não deixou que ela destruísse o meu fígado”.
Há quatro anos sabendo que tem a doença, Montalvão já passou por dois tratamentos sem sucesso. “Passei muito mal, ficava fraco e o meu cabelo caiu. Eram verdadeiros ataques nucleares”, conta. No ano passado após passar por testes de um novo medicamento, o vírus aparentemente tinha desaparecido, mas em fevereiro deste ano, exames descobriram que o vírus ainda estava em seu corpo, ainda que em níveis bem baixos. “Foi a primeira vez nesta história toda, tanto no meu problema do rim, quando no do fígado, que eu chorei muito”, diz.
A médica Sumire Sakabe, infectologista do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, explica que é comum que o vírus da hepatite C demore muitos anos para se manifestar. “Porém, quando o vírus não é neutralizado pode resultar em cirrose hepática ou um câncer no fígado e levar à morte. O tratamento tem efeitos colaterais e pode demorar anos para ter resultado”, disse.
Para ela, a prevenção é a melhor opção. “O diagnóstico é difícil porque não é feito rotineiramente. Tanto a hepatite B quanto a C precisam de um exame específico para serem detectadas”, disse. “Por isso, eu vejo com bons olhos esta ampliação da faixa etária de vacinação gratuita da hepatite B. São três doses e a vacina funciona pela vida toda”, disse. Desde abril deste ano qualquer pessoa com até 49 anos pode ser vacinada contra a hepatite B, gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Antes, a idade limite era 29 anos.
De acordo com pesquisa de 2009 da Sociedade Brasileira de Infectologia, a cada ano ocorrem cerca de 37,5 mil casos de hepatites virais no País. As mais comuns são as A e B, seguidas pela C.
Tipos de hepatite e contágio
A hepatite A é a mais fácil de tratar e é transmitida por objetos e alimentos contaminados. Já a hepatite B é de difícil tratamento e raros casos de cura total. É transmitida principalmente através de relações sexuais e contato sanguíneo e pode levar à cirrose, câncer de fígado e morte. Para as duas primeiras, há vacinas disponíveis.
Já a do tipo C é transmitida por sangue, principalmente transfusões e sexualmente apenas quando há sangramento mútuo. A hepatite G e a E e as auto-imunes são mais raras.
“A prevenção passa pelo uso de camisinha, não compartilhamento de seringas, cuidados com transfusão de sangue, uso de material esterilizado em cirurgias e manicure e a vacina”, disse Sumire.
Fonte: Agência Aids