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A cada dia pelo menos uma pessoa descobre que tem o vírus da aids em Sergipe, de acordo com dados do Centro de Especialidades Médicas de Aracaju (Cemar). Até o mês de agosto deste ano já foram registrados 303 casos novos, que segundo a enfermeira Marta Regina Goes, já sinaliza um dado preocupante para o principal centro de infectologia da região, levando em consideração que em 2012 os números ficaram em 356. O centro possui atualmente 2486 pacientes soropositivos que fazem o tratamento.
Os números são preocupantes e mostram a ausência de controle da situação no estado. “Nós estamos tratando dos casos, mas cadê a prevenção?”, questiona a enfermeira Marta Regina, que atua na área há 10 anos. Para a ela, a solução seria um trabalho contínuo nos postos de saúde.
“Além da prevenção é importante a inclusão de programas sociais, divulgação massiva de campanhas publicitárias e uma discussão aprofundada nas escolas e igrejas”, sugere.
O coordenador do Programa Estadual DST/Aids, Almir Santana, afirma que a situação está sob controle. “Oferecemos durante todo o ano seminários, oficinas, festivais de paródias e palestras informativas nas escolas”, garante.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a aids é a 13ª causa de morte no país, que registra 38 mil novos casos e cerca de 12 mil mortes ao ano por causa da doença.
Adesão ao tratamento
Uma preocupação para os profissionais da área está no acesso ao tratamento. “Duas palavras definem o controle dessa situação: diagnóstico e adesão”, é o que identifica o infectologista, Sérgio Agnaldo Monteiro. Somente no Cemar são 875 pacientes que abandonaram o tratamento desde 1987 até 2013. “Para evitar essa fuga é necessário resgatar o paciente e combater o vírus, impedir que ele cresça e não se multiplique”, observa.
Para favorecer o tratamento, o centro médico conta com a busca ativa dos pacientes por telefone e, em alguns casos, a visita na moradia. Mas ainda não é o suficiente para assegurar a adesão total. “Se o paciente muda de telefone ou endereço é mais um sem o tratamento”, ressalta a enfermeira Marta.
Além dos entraves com a medicação o acesso ao local do tratamento é outro complicador. Para vencer essa barreira um grupo com 238 mulheres, conhecidas como o Movimento Nacional de Cidadãs Positivas (MNCP) lutam pelo passe livre.
Em março deste ano e na primeira semana de setembro elas se reuniram com donas de empresas de ônibus para solicitar o auxílio. Mas tiveram o pedido negado. “Seria uma barreira vencida se as organizações tivessem sensibilidade. Quem é o soropositivo não gosta de se identificar por causa do preconceito”, avalia M.C., integrante do movimento e soropositiva desde 2009.
A coordenadora municipal do Programa DST/Aids, Debora Kelly, informou que em dezembro deste ano será implantado o Programa de Adesão a Terapia Retroviral. Um sistema eletrônico que será possível identificar o perfil do paciente com a intenção de resgatar ou manter na rede ativa do centro. O projeto já foi aprovado e vai custar R$ 15 mil.
Mulher é contaminada pelo marido soropositivo
Após sentir muita febre, calafrios, dor de cabeça, dor de garganta e dores musculares e perceber a presença de manchas em seu corpo, a dona de casa que se apresenta como Joana, de 42 anos, foi ao setor de urgência do Hospital Nestor Piva e foi orientada a fazer um teste de HIV. “Esses são os sintomas iniciais da infecção pelo vírus HIV”, explica o médico sanitarista e gerente do Programa Estadual de DST/Aids de Sergipe, Almir Santana.
Mas a dona de casa nem sabia como o teste é realizado. O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito por meio de testes realizados a partir da coleta de uma amostra de sangue. Esses testes podem ser realizados de forma gratuita em unidades básicas de saúde, em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA´s), com cobertura do SUS. Nos laboratórios particulares custam cerca de R$ 150.
Joana foi ao Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), realizou o teste e ficou surpresa com o resultado. “Deu positivo e eu nem sabia o que era o vírus”, revela. A Aids é uma doença que se manifesta após a infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV. O vírus destrói os linfócitos [células responsáveis pela defesa do organismo], tornando a pessoa vulnerável a infecções.
A soropositiva ficou assustada e garantiu que mantinha relações sexuais sem preservativo apenas com seu marido há 15 anos. “Fiquei chocada porque nunca senti nada antes, meu marido também sempre foi saudável”, recorda. Mas Almir Santana explica que uma pessoa pode passar muitos anos com o vírus sem apresentar sintoma algum. “Tudo depende da saúde e dos cuidados do indivíduo com o corpo e alimentação. O diagnóstico precoce garante mais qualidade de vida, por isso é importante fazer o teste. Se o paciente for diagnosticado com menos de 350 linfócitos T CD4+ [células de defesa do organismo] inicia-se o tratamento com uma série de remédios conhecidos como coquetel”, explica.
Após o diagnóstico, a dona de casa começou o tratamento oferecido pelo SUS e foi orientada a incentivar seu marido a realizar o teste também. “No início ele resistiu, mas acabei lhe convencendo. O resultado foi positivo, ele sofreu muito, revelou que me traiu algumas vezes e trouxe o vírus para mim. Perdoei-o, nos abraçamos neste momento delicado e estamos lutando pela vida juntos com muita garra”, garante.
3.200 casos são notificados em SE
Joana faz parte do maior grupo das mulheres infectadas em Sergipe. De acordo com dados do programa Municipal de DST/Aids, a maioria das mulheres infectadas pelo vírus, contraiu o HIV de seus maridos ou de parceiros fixos. Atualmente cerca de 800 mulheres são soropositivas em Sergipe.
Segundo estimativa do Programa Estadual de DST/Aids, nos últimos 25 anos foram notificados mais de 3.200 casos da doença sexualmente transmissível. Cerca de 2.000 pacientes estão em tratamento. Aracaju lidera o ranking de cidades sergipanas com mais casos de Aids, seguida por Nossa Senhora do Socorro, Itabaiana e Estância. Porém, o Estado é o último do Nordeste e o 23º do país em ocorrências da doença. “A maioria vive em situação de pobreza. A faixa etária mais atingida é de 20 a 50 anos”, detalhou Almir Santana que reforça que está cada vez mais fácil o acesso ao preservativo, informação e teste rápido.
“Os preservativos são distribuídos constantemente pelas Unidades de Atenção Primária à Saúde e Secretaria de Estado da Saúde. O diagnóstico precoce faz muita diferença na qualidade de vida da pessoa. Já o diagnóstico tardio ainda é mais evidente em pacientes com 50 anos ou mais de idade que descobrem que estão com o vírus da Aids quando já estão acometidos de uma doença oportunista grave”, alerta.
Transmissão do vírus
O HIV pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e pelo leite materno. “O uso consistente da camisinha é o meio mais seguro de se prevenir contra o HIV e contra outras Doenças Sexualmente Transmissíveis. Seringas e agulhas não devem ser compartilhadas. Todo cidadão tem direito ao acesso gratuito aos medicamentos antirretrovirais. A boa adesão ao tratamento é condição indispensável para a prevenção e controle da doença, com efeitos positivos diretos na vida do soropositivo”, orienta Santana.
Teste rápido do HIV
A secretário municipal da Saúde de Aracaju, Gorete Reis, destacou que o Programa de DST/Aids que foi implantado na capital na década de 90 tem se tornado uma referência nacional. “Aracaju vem se consolidando como serviço de referência nacional. Em 2011, o programa foi considerado o 5º Melhor Programa de DSTs do Brasil, pelo Departamento Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. Um dos avanços do ano foi à implantação do teste rápido em HIV no serviço público”, ressalta.
Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA´s) de Sergipe:
Aracaju – CEMAR – Rua Bahia, s/n, bairro Siqueira Campos – Telefone: (79) 3234-0928
Itabaiana – Rua Josué Passos, 700 – Telefone: (79) 3431-2914
Lagarto – Avenida Machado, s/n, anexo C.S. Maria do Carmo Alves – Telefone: (79) 3631-9630
Estância – Avenida Gumercindo Bersa, 274, bairro Centro – Telefone: (79) 3522-6978
Socorro – Avenida Principal, s/n, Conjunto João Alves Filho – Telefone: (79) 3256-8079
Propriá – Praça Rodrigues Dória, 69 – Telefone: (79) 3322-2317 / 1022
Fonte: G1