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Pai que adotou menina com HIV diz ter se desenvolvido como ser humano

Pai que adotou menina com HIV diz ter se desenvolvido como ser humano

 “No dia dos pais, das mães e nos outros 363 dias do ano, adotar uma criança é a prova maior que podemos dar como ser humano. Aceitar alguém que não tem relação co-sanguínea com você e passar a amá la e senti-la como sua filha de carne e de sangue é a melhor sensação que podemos ter em vida”.

Quem diz isso é o administrador Julio (nome fictício), que junto com sua mulher adotou quatro filhas, uma delas com HIV. Júlio é uma dos homenageados pela Agência Aids neste 11 de agosto, Dia dos Pais.

Com 38 anos e casado há 10, o administrador está cercado de mulheres. Além de sua esposa, há suas quatro filhas adotivas, que hoje têm 4, 6, 7 e 15 anos. Em suas palavras, depois das adoções, “sossego nunca mais”. Não que ele reclame. “Graças a Deus”, diz. Ele comemora o aumento do tamanho da família e garante que a relação entre as meninas é normal, “de irmãs de verdade”, com brincadeiras, brigas e abraços.

As cócegas, beliscões e mordidas de brincadeira entre as irmãs fazem parte do cotidiano. As irmãs mais novas não cansam de pedir para tomar banho com a mais velha, e se revezam na função, pois se todas tomam banho juntas, “acabam com a água do planeta’, como dizem os pais, que na realidade estão preocupados com a bagunça que elas podem fazer.

Desde antes do casamento, Julio e sua (hoje) esposa queriam adotar um filho. Realizadas as etapas de habilitação e fila de espera, o casal foi chamado para conhecer aquela que seria a primeira filha. A partir do primeiro encontro já sabiam que começariam a trata-la como filha, pois tinham a certeza que não voltariam atrás. O processo restante, de destituição e adoção definitiva, levou cerca de dois anos.

E com o sucesso da primeira experiência, veio o desejo de novas adoções. Julio e a esposa renovaram suas habilitações e entraram novamente na fila de adoção. Logo foram chamados para conhecer duas meninas que na época estavam em um abrigo. No encontro, o casal ainda “se apaixonou numa primeira olhada” por uma terceira, segundo Julio. Não só o casal, mas também a primeira filha, que desde então não desgrudou mais de suas irmãs. A partir daquele dia o lar do casal ganharia mais três novas integrantes.

Na época desta última adoção, o psicólogo e o assistente social do Fórum de Itapevi, cidade em que Júlio mora – próxima à capital paulista -, esclareceram para o casal prestes a iniciar uma grande família que uma das meninas era portadora do HIV, transmitido verticalmente. Mas isso não foi impedimento para a adoção.
“Em nenhum momento tivemos dúvidas de que queríamos adotá-la também, mas mesmo assim questionamos amigos e médicos da área, que nos deram uma aula sobre o HIV”, diz o administrador e pai.

Júlio ressalta que a vida de toda a família é normal, e que uma filha com HIV não mudou a rotina deles. “Diferente do que muitos pensam, as pessoas com HIV precisam tomar mais cuidados para não contraírem outro tipo de infecção do que com o próprio vírus. Claro que o cuidado para não transmitirem é o básico para uma vida tranquila”, comentou.

Segundo ele, os efeitos dessa doação foram positivos, pois alguns parentes ficaram ainda mais próximos e quebraram o preconceito em relação à doença. “Percebemos na prática que nossa filha não representa perigo algum para ninguém. Ela realiza todas as atividades cotidianas, assim como suas irmãs: vai à escola, brinca, se diverte. Fora isso, toma seus remédios diariamente e sua saúde é acompanhada de perto, inclusive para evitar os efeitos colaterais dos medicamentos”, conta Júlio. “Todos nós devemos ter cuidado com nossos corpos e com nossa saúde, e com ela não é diferente”, acrescenta.

No entanto, Júlio conta que nem todos os amigos e parentes da família sabem que sua filha tem HIV. Não há, para eles, a necessidade de sempre comentar. Fazendo isso, preservam sua filha e acreditam que a informação vai gerar, ao longo do tempo, menos impacto. A revelação virá de forma natural e espontânea.
O homenageado do dia diz que a filha soropositiva o ajudou a crescer espiritualmente e a se desenvolver como ser humano. “Se nada difere, se não há preconceito, estas crianças têm as mesmas necessidades e direitos de outras crianças saudáveis ou portadoras de outras doenças”, comenta.

Ele disse à Agência de Notícias da Aids “que não há nada no mundo que pague ver os sorrisos em cada rosto, em cada olhar, o carinho e o amor delas”.

Nana Soares

Fonte: Agência Aids